Entenda porque os jogos interplataforma são a arma secreta da Microsoft
Tablets, smartphones, PCs e TVs. A Microsoft está em uma posição única de integrar todas estas “telas” e mudar profundamente a indústria dos games.
A Microsoft tem sido bastante criticada por seus recentes esforços para se reinventar, mas entre a execração pública do Windows 8 e da família de tablets Surface, um acontecimento crítico vem sendo amplamente ignorado: a empresa tem o hardware e o software para dominar as quatro telas mais importantes para jogos em sua vida.
Seu PC, seu tablet, seu smartphone, sua TV. A Microsoft pode oferecer uma experiência de jogo consistente entre todos eles, graças ao Windows 8, Windows RT, Windows Phone 8 e Xbox 360, quatro plataformas que estão unicamente interligadas por nossas contas Microsoft e, por extensão, pelos perfis pessoais e números de cartão de crédito associados a elas.
Se você tem múltiplos aparelhos com software e serviços da Microsoft e quer uma prova da sinergia de que a Microsoft é capaz no mercado de jogos, dê uma olhada em Skulls of the Shogun.
Lançado em janeiro em versões para o Windows 8, Windows RT, Windows Phone 8 e Xbox 360, Skulls é um jogo de estratégia em turnos que tira total proveito da hegemonia da Microsoft em jogos interplataforma. Jogadores em diferentes dispositivos podem se enfrentar cara a cara em combates multiplayer, derrubando as históricas barreiras entre os vários tipos de hardware. É um excelente recurso em um jogo excelente, bem como um prenúncio de como os jogos irão evoluir.
Skulls of the Shogun: um jogo, quatro plataformas
Mas então porque a Microsoft não está fazendo mais barulho quanto a este recurso? Os Xbox e PCs com Windows já são poderosas plataformas para games, então usá-los para promover o ecossistema Windows em geral ajudaria a vender muitos smartphones e tablets, certo?
Em teoria, sim. Mas se a Microsoft quer dominar o universo dos games, ela precisará de uma grande ajuda de seus principais arquitetos: os desenvolvedores.
Atraindo desenvolvedores
Para ajudar a incentivar os desenvolvedores a criar jogos para o Windows 8 a Microsoft levou ferramentas de desenvolvimento novinhas em folha à Game Developers Conference em 2012. Peter Orullian, Gerente Sênior de Marketing de Produto para o Xbox Live, diz que a Microsoft teve grande sucesso ao convencer os desenvolvedores a criar jogos para o Windows 8 com sua Xbox Live SDK. E ele promete que a Microsoft irá “com tudo” atrás do mercado de jogos em dispositivos móveis, incentivando os desenvolvedores a tirar proveito dos servidores do Xbox Live para construir jogos interplataforma com elementos de partidas multiplayer assíncronas e armazenamento de dados (como savegames) na nuvem.
Durante uma recente conversa ao telefone, Orullian nos confirmou que pelo menos mais dois jogos interplataforma serão lançados na Windows Store. Você será capaz de começar uma partida em um aparelho, pausá-la quando necessário e continuar mais tarde, exatamente de onde parou, em um aparelho completamente diferente.
Não importa a plataforma, Skulls of the Shogun é um excelente jogo de estratégia
O executivo nos contou como as novas ferramentas de desenvolvimento para Windows foram projetadas para ajudar os estúdios a transportar seus títulos para diferentes plataformas Microsoft com mínimo esforço. “Por exemplo, quando você cria um jogo para o Windows 8 usando nossas novas ferramentas, o trabalho adicional necessário para levá-lo ao Windows Phone 8 é pequeno”, diz ele. “Então, se começo a jogar uma partida de paciência em meu desktop, posso sair para o trabalho e continuar de onde parei durante o caminho usando meu Windows Phone”.
Orullian aponta para os apps Musica, Video e Jogos, que vem pré-instalados no Windows 8, como prova de que a Microsoft está comprometida em unificar o entretenimento digital entre múltiplos dispositivos com seu novo ecossistema Windows. Mas embora estes apps lhe permitam compartilhar mídia e acompanhar sua conta no Xbox Live entre aparelhos com o Windows 8, Windows Phone e Xbox 360, eles não são jogos.
De fato, a Microsoft precisa começar a lançar grandes jogos interplataforma para seu hardware o mais cedo possível. Neste instante. Antes que os concorrentes tenham a chance de superá-la.
Competição por todos os lados
Antes de continuar, vamos reconhecer que jogos interplataforma não são uma novidade. Desde o lançamento do iPad a Apple suporta apps “universais” que funcionam igualmente bem em iPhones e iPads. E o Wii U da Nintendo vem com uma “tela extra”, uma mistura de tablet e gamepad com recursos de jogo remoto. Em vários títulos do sistema você pode escolher entre jogar em sua TV ou no controle.
E a Sony está reforçando sua estratégia com o anúncio do PlayStation 4: na visão da empresa, você pode jogar na TV da sala ou em seu PlayStation Vita, e o controle DualShock 4 tem um botão “share” que pode transmitir, em tempo real, sua partida para a tela de uma outra pessoa.
E temos a Microsoft. Entre Xbox, Windows Phone e o PC, a Microsoft tem uma base sólida em três das quatro mais importantes telas para os jogos nos últimos anos. E a nova versão do Windows coloca a Microsoft também nos tablets, o que lhe dá um ponto de entrada para fazer coisas interessantes que, no momento, estão fora do alcance de seus concorrentes.
Games for Windows Live: um alerta
A Microsoft já fez experiências com jogos interplataforma no passado, via Xbox Live. Primeiro houve o “Games for Windows Live”, um cliente para o PC que permite aos jogadores fazer login em suas contas no Xbox Live e conseguir “Conquistas” (Achievements) em alguns jogos de PC. Depois vieram alguns jogos para Windows Phone, que também se integram ao Xbox Live.
Infelizmente, a maioria dos jogos não usou o Xbox Live para mais do que um “depósito” de conquistas. Os poucos jogos que ofereciam a possibilidade de partidas interplataforma fracassaram espetacularmente porque jogadores em hardware dramaticamente diferente foram colocados um contra o outro em rápidas competições em tempo real.
O pior exemplo foi Shadowrun, um jogo de tiro em primeira pessoa lançado em 2007 que permitia que jogadores no Xbox 360 enfrentassem gamers em PCs. Jogadores e críticos detonaram o jogo por vários motivos, mas a disparidade entre as experiências multiplayer no PC e no console sempre esteve em evidência. Jogadores no PC, equipados com teclados e mouses, simplesmente tinham uma vantagem na velocidade de reação quando comparados aos jogadores no Xbox com seus gamepads. Além disso, jogadores de PC rodando o jogo em resoluções mais altas conseguiam ver mais do cenário, e com mais detalhes, o que lhes dava uma vantagem em relação aos competidores nos consoles.
Shadowrun: jogadores de PC tinham uma vantagem
Jogos rápidos que exigem precisão e reflexos rápidos não são divertidos em partidas interplataforma. Jogos mais “lentos”, assíncronos e baseados em turnos, entrtanto, são muito mais adequados à abordagem da Microsoft.
Grandes desafios à frente
Borut Pfeiffer, um desenvolvedor independente que trabalhou em Skulls of the Shogun, diz que o elemento multijogador do game dá centro entre múltiplas plataformas porque é baseado em estratégia por turnos, e desafia o intelecto em vez dos reflexos dos jogadores. Além disso, o modo multiplayer Skulls Anywhere lhe permite jogar em qualquer tipo de hardware da Microsoft. Você pode começar uma partida em um Xbox 360 jogando contra alguém no PC, e mais tarde tanto você quanto seu oponente podem trocar de aparelho e continuar o jogo em um Surface RT ou Windows Phone
Pfeiffer diz que o suporte a multiplayer assíncrono entre quatro plataformas dá a Skulls uma vantagem sobre os outros jogos porque ele é acessível a um grupo muito maior e mais diverso de jogadores. Esta vantagem, entretanto, veio com um preço: desenvolver o jogo com o suporte a partidas interplataforma exigiu tempo extra no processo de desenvolvimento e também causou frustração extra. Da mesma forma, o tipo de jogabilidade interplataforma utilizado em Skulls só é possível em jogos com interfaces amigáveis ao toque que podem ser interrrompidos e retomados à vontade.
“É um duro desafio de design, construir um jogo interplataforma”, disse Pfeiffer em um e-mail. “Embora pareça haver um demanda por isso, como desenvolvedor você terá de resolver um monte de problemas de uma só vez”.
Se a Microsoft jogar bem suas cartas, o Surface pode se tornar muito mais interessante para os gamers
Apesar dos desafios, Pfeiffer acredita que veremos muitos novos jogos assíncronos adentrando o ecossistema da Microsoft nos próximos meses. E se ele estiver certo os tablets Microsoft Surface ficarão muito mais interessantes ao longo deste ano. Nossos testes indicam que o Surface Pro não é uma boa opção para o jogador “hardcore” de PC, mas pode ser o dispositivo perfeito pra ficar “em dia” com seus jogos interplataforma favoritos quando você está longe de casa.
No final das contas...
A Microsoft precisa dar um passo adiante e promover os jogos interplataforma em todo o novo ecossistema Windows. Desktop, tablet e smartphone já estão prontos, e um novo Xbox está prestes a chegar. Agora precisamos de um esforço combinado, com ou sem o suporte de outros desenvolvedores.
A empresa precisa de um título grande, chamativo, que mude o jogo, e se ninguém desenvolvê-lo independentemente ela precisa agir sozinha. Se a empresa conseguiu montar um pequeno exército para projetar e lançar os tablets Surface, com certeza consegue montar uma equipe focada de desenvolvedores para criar um jogo que fará o mundo todo falar sobre jogos interplataforma.
Em um mundo perfeito, tal jogo seria bom o bastante para criar uma franquia com todo o poder que Zelda e Mario deram à Nintendo nos anos 80. Mas mesmo algo simples e elegante, algo como Angry Birds, faria maravilhas ao dar às pessoas um motivo para se importar com a proposta de quatro telas da Microsoft. Jogos interplataforma baseados em Windows dão à Microsoft uma poderosa vantagem competitiva em 2013, mas a janela de oportunidade não estará aberta para sempre.
via PC World
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