E agora, BlackBerry?
Dia desses, um amigo esteve em Nova York e voltou encantado com o que ele considera uma mudança radical: o nova-iorquinho, outrora viciado em BlackBerry, agora só usa iPhone. Em todos os lugares. E nada mais do correr de dedos pelo tecladinho QWERTY que durante tanto tempo foi sinônimo de e-mail móvel. O fenômeno tem tudo a ver com a decadência da criadora do BB, a canadense RIM (Research in Motion), que anda passando por maus bocados e teve, na semana passada, mais um importante momento de definição e ajustamento de rumos.
Apresentado aos acionistas, o novo CEO da companhia, Thorsten Heins, em seu debútteve que (tentar) apagar vários incêndios. O primeiro é causado por aqueles que acham que o hardware BlackBerry já era; o segundo, por aqueles que têm certeza de que o software não sobreviverá. O terceiro é o dos que têm certeza de que apenas a fusão com um gigante pode salvar a RIM. E é por aí mesmo.
Assim como a Nokia, a RIM tem visto suas ações despencarem nas bolsas (no caso da RIM, a queda foi de 95% desde 2008); teve que demitir 1/3 da sua força de trabalho – cinco mil funcionários – e agora precisa mostrar alguma coisa ao mercado. Mas qualquer coisa serve? O problema é que não.
A RIM foi revolucionária ao apresentar ao mercado o melhor e mais seguro sistema de e-mail móvel já visto até então. Depois, todo mundo adotou. O que ela tinha de diferencial deixou de ser, apesar da dita inviolabilidade do sistema, um trunfo para o mercado corporativo. E se um usuário pode ter e-mail de qualidade e segurança + aplicativos + bons aparelhos, por que ficaria com um BlackBerry? Talvez no mundo corporativo o BB ainda faça algum sentido, mas como bem lembrou o amigo Pedro Dória na sua coluna n'O Globo, hoje é mais comum ver executivo com iPhone na mão do que o antes engravatado BlackBerry.
Ok, Nokia e RIM estão com problemas e precisam correr atrás de decisões urgentes. A Nokia pelo menos já apostou no Windows Phone, já lançou um produto com ele e mostra disposição para abraçar o Windows 8. Não parece mais tão perdida. Mas a RIM não demonstrou, até agora, nenhuma inclinação por nenhuma das correntes atuais – iOS, Android e WP. Será que insiste no seu sistema fechado, mesmo correndo o risco de não ter desenvolvedores para incluir funcionalidades que agradem ao consumidor? Ela deve apostar no hardware ou no software? Casa com a Microsoft e se torna mais uma a fabricar Windows Phone ou casa com outro fabricante de gadget e leva seu BlackBerry 10 ao mercado?
Em dezembro, uma tentativa de nadar junto com a corrente: a RIM anunciou, lá fora, o BES (Business Enterprise Server) para Android e iOS. Recentemente, lançou a BlackBerry Mobile Fusion, solução para empresas e governos gerenciarem smartphones e tablets dos funcionários, que além de rodar na plataforma da RIM (BlackBerry OS) também roda em iOS e Android. O primeiro anúncio foi encarado com desconfiança pelo mercado e pelos especialistas, que consideraram tardio. E foi! O segundo ainda está sendo avaliado.
É preciso lembrar que o BB sempre trouxe vantagens interessantes para seus usuários, como o serviço de mensagens (BBM), que até hoje não encontrou concorrente. Seu BIS (Business Internet Service) e BES também sempre foram atrativos para as empresas. Segura e simples, sua plataforma fazia sentido num mundo no qual iPhones e Androids não ofereciam a mesma coisa e ainda por cima milhões de aplicativos em lojas de download e aparelhos cada vez mais legais.
Agora a coisa deu uma complicada. A RIM tentou um tablet – o PlayBook – que à primeira vista é bem interessante (eu tenho um) mas trava muito, é consideravelmente lento em comparação ao iPad e o Galaxy Tab, por exemplo, e tem poucos aplicativos à disposição. E não tem nenhum aparelho que tire o fôlego de ninguém. Tem ainda algumas saídas a considerar – fazer do BBM uma rede social; oferecer sua plataforma a um fabricante que consiga unir o útil ao agradável, ou se separar em duas, como fez a Motorola.
Aliás, em abril saiu na mídia canadense (especificamente, no Toronto Sun, aqui), que ela considerava fortemente vender sua unidade de hardware, ou seja, abrir mão do BlackBerry, para tentar sobreviver no mundo do software, tentando a sorte com o OS BlackBerry 10. Assim, ela passaria a apostar em sua rede de mensagens e deixaria para outro a fabricação de aparelhos. A RIM correu para negar (leia aqui) mas o estrago já estava feito.
Na ocasião, o CEO enviou comunicado à imprensa e ao mercado reafirmando a posição da empresa e negando veementemente que estaria para se dividir em duas. Dentre muitas promessas, Thorsten Heins disse que a RIM voltaria a se focar em negócios corporativos, mas também mencionou seus esforços em competir no segmento de “traga seu próprio dispositivo” (para o trabalho), o que inclui o desenvolvimento de uma proposta atraente para o mercado de consumo.
Disse ainda que “antes do lançamento do BlackBerry 10 e durante o resto do ano fiscal de 2013, é imprescindível para empresa apoiar as vendas de produtos com BlackBerry 7 para manter a base de assinantes. Para isso, a companhia pretende incentivar as vendas de smartphones BlackBerry 7 de maneira agressiva, estimulando usuários de produtos mais antigos da BlackBerry a migrar para o BlackBerry 7, e atraindo clientes de celulares mais avançados para o BlackBerry 7 para sua primeira experiência com um smartphone”.
O CEO disse, ainda, que novos dispositivos BlackBerry 7 devem ser lançados nos próximos meses para revigorar a posição da empresa no segmento de smartphones de entrada e apoiar seus esforços de crescimento contínuo da base de assinantes com a migração de usuários de celulares avançados para smartphones. Por último, afirmou que a companhia está buscando parcerias para oferecer ao consumidor conteúdos e características de consumo que não são centrais à proposta de valor BlackBerry, como aplicativos de mídia. Ou seja, prometeu que vai nadar junto com a corrente e fazer do BB um centro de entretenimento digital TAMBÉM.
O negócio é que onde há fumaça normalmente há fogo, ou pelo menos um começo de incêndio. A questão da RIM é saber se ela tem condições de se reinventar por inteira, saindo dessa de cabeça erguida, saudável e disposta a competir de igual para igual num mercado cheio de tubarões bem alimentados. Eu, sinceramente, acho que é dose pra mamute!
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Category: BlackBerry, Noticias

Thorsten Heins, CEO da RIM (Foto: Reprodução/Engadget)

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