Confronto: Max Payne 3 vs. Kane & Lynch 2, qual o melhor jogo policial?
Max Payne 3 e Kane & Lynch 2 são jogos similares, mas que tentam atingir objetivos individuais. O primeiro é uma versão noir de filmes de ação do John Woo, já o o outro é uma crua experiência na vida de dois psicopatas tentando ganhar seu pão diário. Mas, afinal, qual deles é o melhor jogo? Quem defintivamente representa de maneira mais completa seu gênero?
Este é mais um confronto entre jogos. Nosso objetivo é emparelhar dois jogos - similares ou divisores de opinião - e colocá-los frente a frente para definir quem é o melhor. Vamos ao embate:
Jogabilidade
A Rockstar trouxe uma bela iteração da já instigante química da série Max Payne. Em resumo, as regras de jogo são bem simples: Max consegue lidar com todas as situações com combinações descomplicadas de mecânicas de tiroteio em terceira pessoa e a capacidade de desacelerar o tempo para ter um espaço de disparo maior durante o mata-mata. A graça de Max Payne 3, porém, está nos pequenos detalhes.
O motor Euphoria, por exemplo, garante que tudo, inclusive o herói, tenha massa: um ShootDodge (o salto slo-mo já característico de Max) mal calculado pode te fazer perder preciosos segundos enquanto Max tenta se recuperar de uma cabeçada contra uma parede ou uma queda em grande altitude. Mas ao mesmo tempo, não se mover depois dele pode te colocar em vantagem, deixando descarregar balas com o corpo colado ao chão. Outro exemplo: pegar a arma de um adversário enquanto Max corre automaticamente ativa uma animação de rolagem, completamente efetiva para fugir do fogo inimigo e uma bela manobra de início para um Bullet Time.
Este é justamente o tipo de mecânica que coloca o título a frente de Kane & Lynch 2 em termos de jogabilidade. O jogo da IO Interactive é completamente arroz e feijão: você corre, atira e se esconde atrás de paredes ou outros obstáculos para fugir do disparo inimigo. E nenhum destes funciona tão bem. Você ainda é atingido mesmo escondido atrás de barricadas, o balanço das armas é bem esquisito (é impossível acertar qualquer pessoa com uma sub-metralhadora, mas uma espingarda acerta inimigos a longa distância como se fosse um rifle) e se movimentar é um pouco mais complicado do que deveria devido a um estranho jogo de câmera. E já que estamos no assunto…
Gráficos
Ambos os jogos apostam em estéticas similares: homens feios atirando uns nos outros em locais exóticos e com truques visuais que remetem aos cortes frenéticos de um filme do Michael Mann. Max Payne 3 é mais direto ao ponto no departamento visual. Sua reconstrução de uma São Paulo fictícia é de tirar o fôlego – ter uma boss battle contra um caveirão era um sonho de infância – mas de resto o jogo não foge muito à regra, dependendo de belíssimas transições entre momentos de jogo e cenas de corte e puro poderio técnico para fazer valer sua presença na tela. É um jogo que implora por uma TV LED e um cabo HDMI.
Kane & Lynch 2 é um pouco mais criativo: o jogo é todo montado e construído como se fosse um grande vídeo de YouTube gravado com uma câmera xing ling. Estamos na China afinal, e cada pomposo sinal de néon ou iluminação semelhante estoura na tela como fariam em um vídeo caseiro, cada rosto mutilado por um headshot aparece escondido por um efeito quadriculado simulando a censura de um noticiário.
É tudo muito cru, mas capaz de comunicar muito bem todo o tom violento e cruel da ação. O problema é que a maior parte desses efeitos complicam mais do que deveriam os momentos de jogo, fazendo da criatividade do game seu principal vilão. Isso sem nem falar que todos os artifícios escondem algumas texturas de baixa definição bem feias.
História
Vamos ser diretos: nenhum dos dois jogos vai ganhar qualquer prêmio pelas histórias que tentam contar. Entretanto, no gigantesco abraço de afogados que é esta peleja, Kane & Lynch 2 sai vitorioso, e por uma razão simples: você pelo menos entende o que leva os protagonistas a fazer o que fazem. A meta de se focar no maníaco-depressivo Lynch e não no mercenário tranformado em pai, Kane, é questionável, mas a trama faz o melhor para te fazer sentir na pele cada desvio na pessimista saga dos anti-heróis em conseguir uma graninha extra não exatamente da maneira mais politicamente correta.
Max Payne 3 começa bem até que a Rockstar decide enfiar seu já cansativo plot de traição e vingança na aventura, e aí a coisa vira uma bagunça sem sentido. Sem entregar detalhes da trama, o motivo pelo qual Max é contratado pela família Branco nunca é explicado de maneira satisfatória no complicado revés da história, assim como o conflito entre as diversas facções que servem de inimigos ocasionais para o barbudo nunca ganhar linhas definidas. Mais importante: a história nunca te faz se importar pelo Max de qualquer maneira – o cara é apenas um repositório das mais sagazes frases de efeito que vimos em um videogame que, por acaso, tem como hobby odiar sua vida, mesmo quando ela envolve feitos físicos que fariam Chow Yun-Fat se sentir fora de forma.
Multiplayer
A galinha dos ovos de ouro da série Kane & Lynch sempre foi o multiplayer. Ambos os jogos apresentam alguns dos mais criativos e instigantes modos que já vimos. A maioria deles explora a paranóia do jogador ao invés de se focar no espírito meramente competitivo de um Deathmatch ou CTF padrão.
Em Undercover Cop, por exemplo, um dos jogadores é escolhido randomicamente para ser o tira infiltrado, e deve ajudar os policiais a evitar um roubo antes que seu time consiga esvaziar os caixas e levar a grana. A chave é que não há nenhuma dica a respeito de quem seja o policial, e o próprio é encorajado a se manter no disfarce: o jogador só pode começar a ganhar pontos matando seus colegas quando o crime já foi cometido, e enquanto todo mundo estiver se matando para pegar a maior bolada da partida.
Max Payne 3, por sua vez, introduz multiplayer competitivo a série com um sistema de progressão e customização que remete a Call of Duty. Ao invés de perks, entretanto, você ganha Bursts, ou habilidades especiais – Bullet Time é uma delas – e destrava equipamento para montar suas próprias classes. É definitivamente fácil achar jogadores online em ambos os lobbys – soft aim e hard lock, que se diferem em permitir travamento automático de mira ou controle manual da visão do personagem – e, sim, isso tem a ver com o fato do jogo ser relativamente recente.Além dos insteressantes Undercover Cop e Fragile Alliance, o jogo ainda conta com uma opção para jogar a história em cooperativo e um modo multiplayer mais direto ao ponto – o Cops and Robbers. Toda essa variedade, infelizmente, faz pouco pelo jogo devido a um probleminha: ninguém mais está jogando. Quando voltamos para a versão do game para PC enquanto escrevíamos este texto, tivemos dificuldade em achar qualquer partida ativa. Mesmo clicando na opção Quick Match o jogo nos obrigava a definir o próprio lobby e encarar esperas longas e enfadonhas. Em um dia inteiro de testes não conseguimos ninguém para jogar. Recomenda-se reunir amigos ou abusar da opção de conexão em LAN.
Mas Max Payne 3 tem muito mais longevidade como jogo multiplayer do que Kane & Lynch 2, e boa parte disso se deve à inclusão de Crews, gangues que o jogador pode montar e ajudar a ganhar fama nos diversos modos do game. O time com quem você joga em Max Payne 3 será automaticamente transferido para GTA V, então muitos jogadores estarão tentando provar o valor de suas gangues por ainda uns bons meses ate a chegada do game.
Conclusão
O novo épico da Rockstar pode não ser o melhor que a companhia fez em sua última década de sucessos, mas é um excelente shooter. Tanto que, em três das quatro categorias deste confronto, o game ganhou de lavada: Max Payne 3 é um jogo melhor estruturado, bem mais bonito, com um multiplayer bem mais durável e com mais conteúdo que Kane & Lynch 2. Entretanto, vale a pena conferir seu rival pela única vitória que ele adquiriu sobre Max. A história do game é realmente interessante e, juntando um número decente de amigos, o multiplayer torna-se uma das melhores escapadas recentes para o mundo da competitividade online.
via Tech Tudo
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