Análise: Microsoft Windows 8

Thaylan Sk | 10:25 | 0 comentários

 Sistema operacional traz melhorias em relação ao Windows 7, mas os esforços para abraçar os dispositivos móveis podem fazer com que os usuários de PCs Desktop se sintam abandonados.

Analisar um sistema operacional é uma empreitada peculiar, porque as pessoas não usam sistemas operacionais. Elas usam aplicativos, e o sistema deve ser o mais transparente possível, servido apenas como um trampolim para eles. E com o uso cada vez maior da nuvem e de dispositivos móveis, a idéia de um sistema operacional limitado a uma única plataforma (o PC) é menos relevante hoje do que alguns anos atrás. Hoje em dia, em vez de sistemas temos “ecossistemas”: da Microsoft, da Apple, da Google. Escolha um.
Dito isto, os usuários de PCs esperam que seus aplicativos Windows rodem como sempre, e querem ter o mesmo nível de controle sobre seus notebooks e desktops que sempre tiveram. Novos recursos de software devem permitir que os usuários façam mais com suas máquinas. E como a reação ao finado Windows Vista demonstrou, enfeites e firulas não devem prejudicar o desempenho da máquina, ou exigir novo hardware.
Conseguirá o Windows 8 atingir seu objetivo de ser um aspecto de um novo ecossistema da Microsoft enquanto mantém suas raízes no PC? Poderão os computadores atuais rodar o Windows 8 sem a necessidade de caros monitores sensíveis ao toque? Irá a nova interface afastar os usuários atuais, ou atraí-los para o ecossistema? Tentarei responder a estas e outras questões neste mergulho até as profundezas do Windows 8.
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Esta será a "cara" dos PCs daqui por diante
Este review foi escrito tendo como base a versão RTM (Release to Manufacturing) do Windows 8, que deve ser idêntica à que chega às lojas e novos PCs em 26 de Outubro. Rodamos o sistema em um PC razoavelmente poderoso, com um monitor comum (sem touch), teclado e mouse. Também usamos um ultrabook Samsung Series 9, equipado com um trackpad da Elan que tem total suporte a gestos multitoque.

A interface
O Windows 8 tenta fazer você ligar seu login no sistema a uma conta Microsoft. Isso é opcional, mas permite que você use seu login e senha do Messenger ou Outlook.com como login e senha do sistema, além de permitir uma melhor integração com recursos online.
Por exemplo, você pode pedir para o sistema salvar “na nuvem” suas preferências (imagem associada à conta, lista de apps instalados, fundo da tela Iniciar e da lockscreen, configuração do programa de e-mail, etc) e elas serão automaticamente restauradas em um novo PC quando você fizer o login, facilitando uma migração.
Como mencionei anteriormente, o Windows 8 foi projetado para ser parte de um ecossistema, junto com o Windows Phone (que também chega à versão 8 em breve) e o Windows RT. A Microsoft acredita tão fortemente nessa idéia que transformou a interface antigamente conhecida como “Metro”, que nasceu no Windows Phone, na interface principal do novo sistema, mesmo no Desktop. 
A nova interface aparece na tela Iniciar, assim que o computador é ligado. Ela é um substituto do Menu Iniciar, uma das principais características do Windows desde 1995. Os aplicativos aparecem como blocos coloridos, que podem ser arrastados com o mouse e reordenados. É possível procurar por um aplicativo simplesmente digitando os primeiros caracteres de seu nome: a lista de resultados se reordena automaticamente à medida em que você digita.
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A tela Iniciar é seu ponto de partida no Windows 8. Clique para ampliar
A tela se estende horizontalmente, e basta mover a rodinha do mouse ou deslizar os dedos da direita para a esquerda sobre o trackpad do notebook para “rolar” a lista e ver mais apps. Um clique no botão “-” no canto inferior direito da tela, ou um gesto de pinça com os dedos, dá acesso a uma visão geral, mostrando todos os blocos de uma só vez.
Mas nem todos os aplicativos (incluindo acessórios do Windows como o Paint ou o Bloco de Notas) aparecem na tela Iniciar por padrão. Para acessá-los você deve clicar com o botão direito do mouse sobre uma área vazia da tela e clicar no botão “Todos os aplicativos” no canto interior direito dela para acessar a lista Aplicativos. Se quiser que um aplicativo fique sempre visível, clique com o botão direito do mouse sobre seu ícone e escolha a opção “Fixar na Tela Inicial”.
Um dos principais recursos da tela Iniciar são os blocos dinâmicos. Eles são duas vezes mais largos que os blocos normais e mostram informações atualizadas constantemente, como os widgets em smartphones Android. O bloco Pessoas, por exemplo, mostra as últimas mensagens de seus contatos no Twitter ou Facebook. Também há blocos com suas fotos, a previsão do tempo, as últimas notícias, etc. À medida em que você instala aplicativos da Microsoft Store, novos blocos dinâmicos irão aparecer.
O Desktop ainda vive
A Microsoft divide os aplicativos em duas categorias: os apps “Windows 8”, feitos sob medida para o novo sistema e que rodam sempre em tela cheia, e os aplicativos desktop, escritos para versões anteriores do Windows. Entre eles o Microsoft Office.
Sim, apesar da nova interface o Desktop (muito similar ao do Windows 7) ainda existe, embora não seja possível iniciar o sistema automaticamente nele. A Microsoft quer que a tela Iniciar seja o ponto de partida para a experiência dos usuários com o Windows 8.
Se tudo o que você precisa é abrir um aplicativo, basta clicar em seu bloco na tela Iniciar. Mas ações como o gerenciamento de arquivos ou ajuste de algumas preferências do sistema (como a resolução da tela ou configurações de rede) exigem uma visita ao Desktop. Para isso, clique no bloco correspondente na tela Iniciar, ou tecle a combinação Windows+D. 
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O Desktop ainda existe, e é muito similar ao do Windows 7
O Desktop se comporta praticamente como no Windows 7, exceto pela omissão do Menu Iniciar. Em seu lugar há um “Menu Iniciar Simplificado” que dá acesso a recursos como o Painel de Controle, Gerenciador de Arquivos e o comando Executar. Para acessá-lo basta teclar Windows+X ou, enquanto no Desktop, jogar o cursor do mouse no canto inferior esquerdo da tela e clicar com o botão direito do mouse. 
A aparência das janelas mudou: a “transparência” e os cantos em relevo se foram, substituídos por um visual completamente plano. Em aplicativos como o Gerenciador de Arquivos se você clicar um dos itens de um menu, como Arquivo, verá uma “Ribbon” similar à do Office 2010, que contém em um único local todos os comandos e opções que anteriormente eram mostrados em uma série de menus e submenus. 
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Aplicativos Desktop, como o Windows Explorer, ganharam uma "Ribbon". Clique para ampliar
Mas no geral o Desktop funciona como nas versões anteriores do Windows. Há uma barra de tarefas e você pode “fixar” programas à ela, alternar entre programas abertos com Alt+Tab, minimizar e maximizar janelas, mudar o papel de parede (embora ele seja independente do fundo da tela Iniciar) e mais. É só uma questão de se acostumar.
A Windows Store
A Microsoft adicionou uma loja de aplicativos ao Windows 8, como as já existentes no Mac OS X, iOS e Android. Para usá-la você precisa de uma conta na Microsoft (uma conta do Messenger, Hotmail ou Outlook serve). O layout é similar ao da tela iniciar, com os apps representados em blocos divididos em grupos. Cada grupo tem subcategorias como “Os melhores grátis” e “Novas versões”. Além de aplicativos feitos sob medida para o Windows 8, a Windows Store também tem aplicativos para o desktop, e há tanto apps pagos quanto gratuitos. 
Para baixar um aplicativo basta clicar sobre o bloco correspondente para ir à página com sua descrição, e aí clicar no botão Instalar. A loja também se encarrega de facilitar a atualização dos apps instalados, avisando (em seu bloco na tela Iniciar) quando há novas versões disponíveis. Para desinstalar um app basta clicar sobre seu bloco na tela Iniciar e escolher a opção Desinstalar no rodapé.
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Na Windows Store você encontrará aplicativos para seu PC. Clique para ampliar
Segundo a Microsoft a loja conta atualmente com cerca de 3500 apps, algo distante dos mais de 10 mil títulos na Mac App Store da Apple. Desde que iniciamos os testes vimos mais e mais aplicativos sendo lançados constantemente, mas ainda assim a Microsoft terá que se esforçar para aumentar o tamanho do catálogo. 
Personalizando o Windows
Se você não gosta do jeito como o Windows 8 “sai da caixa” pode personalizá-lo, embora haja limites. A tela Iniciar é composta de grupos de blocos que podem ser livremente organizados a seu gosto: basta arrastá-los com o mouse. Também é possível mudar o tamanho de um bloco, clicando com o botão direito do mouse sobre ele e escolhendo as opções Maior ou Menor no rodapé da tela. 
Também é possível mudar as imagens de fundo da tela de bloqueio e da tela Iniciar, mas isso é inconsistente: a imagem da tela de bloqueio pode ser qualquer uma que você quiser (como nos papéis de parede do Windows 7), mas na tela Iniciar você está limitado às imagens oferecidas pela Microsoft. Nesse caso, além da imagem também é possível mudar o esquema de cores, em uma paleta com 25 opções.
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Você pode mudar a imagem de fundo e as cores da tela Iniciar, mas as opções são limitadas
Também é possível personalizar o Desktop, trocando o papel de parede, esquema de sons ou a cor da borda das janelas. Infelizmente a personalização mais requisitada, a capacidade de fazer o sistema iniciar diretamente no desktop, ignorando a nova tela Iniciar, não está disponível. Ao menos não sem alguns truques.
Melhorias gráficas
O Windows 8 agora usa a GPU (placa de vídeo) de seu computador para acelerar o processamento de quase todos os aspectos e efeitos da interface. Muitos dos subsistemas dependem da API DirectX, que até o momento é mais usada em jogos. HTML5 e imagens em SVG (imagens vetoriais) também tiram proveito de uma GPU, na forma de renderização aprimorada de formas geométricas em 2D.
Os aplicativos dizem ao Direct2D o que desenhar, como círculos e retângulos, bem como características como cor e estilo. Os aplicativos convertem estas instruções em um formato adequado para o Direct3D, que envia os comandos para a GPU. Como resultado, mesmo operações como arrastar uma janela no desktop tem um ganho substancial de desempenho.
Além disso há uma nova API, chamada DirectText, que “terceiriza” a renderização de texto para a GPU. Com isso, o desempenho ao exibir texto em aplicativos escritos para o Windows 8 é o dobro do Windows 7 - às vezes até mais.
Manutenção facilitada
Se você eventualmente encontrar algum problema que o force a reinstalar o Windows, ficará feliz em fazer que isso ficou muito mais fácil. Na verdade, o Windows 8 tem vários níveis de restauração do sistema.
A opção “Remover tudo e Reinstalar o Windows” faz o que o nome diz: devolve seu PC ao estado “de fábrica”, como se tivesse saído da caixa, com um sistema “zero quilômetro”. Mas sem a necessidade de um DVD de instalação, número de série ou instalação manual de drivers depois de instalar o sistema. 
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Quer recomeçar "do zero"? Clique em Remover tudo e reinstalar o Windows (em destaque)
Se você prefere algo menos drástico, há a opção Atualizar PC sem afetar arquivos, que restaura configurações e arquivos de sistema importantes, mas mantém seus arquivos pessoais e todos os aplicativos escritos para o Windows 8 que tenham sido instalados. Note que os aplicativos Desktop não são mantidos, então você terá de reinstalá-los manualmente.
Hardware e dispositivos
Os requisitos mínimos de sistema para o Windows 8 são os mesmos do Windows 7, na verdade um pouco menores. Isso significa que ele deve operar de forma mais eficiente que seu antecessor em máquinas com menor poder de processamento, como netbooks e nettops equipados com processadores Intel Atom, que também serão usados em alguns tablets com o sistema.
Mas o Windows 8 também suporta novo hardware, entre ele dispositivos sensíveis ao toque, que são tão importantes quanto o mouse e o teclado. O Windows 8 suporta o que a Microsoft chamada de “10-Point Multitouch”, ou seja, dez toques simultâneos sobre a superfície (que pode ser uma tela ou trackpad), incluindo suporte a gestos com múltíplos dedos e até com as duas mãos.
Em breve chegarão ao mercado os primeiros notebooks equipados com telas multitoque. E tendo usado brevemente um deles, posso dizer que a tecnologia facilita a navegação e consumo de mídia casuais. Notebooks sem telas sensíveis ao toque terão trackpads multitoque com “detecção na borda”, termo da Microsoft que descreve modelos que são tão sensíveis a um toque nas bordas quanto no centro. À primeira vista eles funcionam exatamente como os trackpads nas máquinas com o Windows 7,  embora sejam um pouco maiores, o que reduz a curva de aprendizado dos novos recursos.
Além dos notebooks tradicionais também veremos novos formatos de portáteis, incluindo máquinas conversíveis com telas que se dobram sobre o teclado ou mesmo telas destacáveis, capazes de se transformar em verdadeiros tablets.
O risco e a recompensa
O sucesso do Windows 8 irá depender de quão rapidamente os consumidores irão adotar a nova interface e o hardware usado para tirar todo proveito dela. Por debaixo dos panos o Windows 8 oferece melhorias de desempenho, melhor integração com a nuvem, um novo sistema de recuperação e várias outras pequenas melhorias.
Mas a nova tela Inicial parece ofuscar todo o resto. Embora o próprio Menu Iniciar tenha causado controvérsia quando lançado no Windows 95, a tela Iniciar no Windows 8 divide opiniões com intensidade muito maior. Junte a isso a posição agressiva da Microsoft na venda de apps (a loja será o único local onde será possível baixar apps otimizadas para o Windows 8) e a insistência na integração com serviços online, e alguns usuários provavelmente irão se rebelar. 
Você pode amá-lo ou odiá-lo, mas não pode negar que o Windows 8 inicia uma nova era de serviços conectados à nuvem, com uma interface unificada entre plataformas e uma integração mais robusta com mídia social. Os usuários mais novos poderão achar o Windows 8 mais atraente que os veteranos. É um risco que a Microsoft teve de correr para continuar relevante no mundo móvel e conectado de hoje. Mas só o tempo dirá se foi a jogada certa na hora certa.
O Windows 8 não é para qualquer um. Se você é principalmente um usuário de desktop e se sente confortável com o Windows 7, o upgrade provavelmente não vale a pena. Se você é um usuário “móvel” que precisa de acesso fácil ao “ecossistema” Microsoft completo, o Windows 8 é definitivamente uma boa opção. Se suas necessidades estão entre estes dois extremos, dê uma boa olhada, com calma, no Windows 8. Mas você terá que estar disposto a aprender a lidar com a nova interface, e se certificar de que seu software e hardware já existentes são compatíveis com o novo sistema.

via Pc World

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